2008-11-23

Louvo a Vida...o Sonho...


- Quando se está "Feliz" o que fazes?
(Nininha)

"Corre, deixa-te levar...
A fantasia
Tem brilhos como as estrelas
E morna e doce e apetece
Soltá-la a voar no mundo
Hoje és um rei
Na tua caravela
A navegar
Num sopro de magia"

(Mafalda Veiga)

http://www.youtube.com/watch?v=KjW2W3Sxu08

2008-11-05

A Vida é um arco-íris...mergulha nele!


DESCANSE EM PAZ: O ENTERRO DO «NÃO CONSIGO»

A turma do 4º ano de Donna parecia-se com muitas outras que eu vira antes. Os alunos sentavam-se em cinco fileiras de seis carteiras. A mesa do professor era na frente, virada para os alunos. O quadro de avisos exibia trabalhos dos alunos. Em muitos aspectos era uma sala de aula primária tipicamente tradicional. Mesmo assim, algo me pareceu diferente naquele primeiro dia em que entrei ali. Parecia haver uma corrente subterrânea de excitação.
Donna era uma professora veterana de uma cidadezinha de Michigan, e faltavam-lhe apenas dois anos para a reforma. Além disso era voluntária activa num projecto municipal de desenvolvimento de equipas que eu organizara e de linguagens, capazes de estimular os alunos a sentirem-se bem consigo mesmos e a assumirem a responsabilidade da sua vida. O trabalho de Donna era assistir às sessões de estratégia e implementar os conceitos apresentados. O meu trabalho era visitar salas de aula e encorajar a implementação.
Ocupei um lugar vazio no fundo da sala e assisti. Todos os alunos estavam a trabalhar numa tarefa, preenchendo uma folha de caderno com ideias e pensamentos. Uma aluna de dez anos, mais próxima de mim, estava a encher a folha de «não consigo».
«Não consigo chutar a bola de futebol além da segunda base.»
«Não consigo fazer divisões longas com mais de três números.»
«Não consigo fazer com que a Debbie goste de mim.»
A sua página já estava a meio e ela não mostrava sinais de parar. Trabalhava com determinação e persistência.
Caminhei pela primeira fila olhando as folhas dos alunos. Todos estavam a escrever as frases que descreviam o que não conseguiam fazer.
«Não consigo fazer dez flexões.»
«Não consigo acertar uma vez sobre a cerca do campo esquerdo.»
«Não consigo comer um só biscoito.»
Nesta altura, a actividade despertara a minha curiosidade e assim decidi verificar com a professora o que estava a acontecer. Ao aproximar-me dela, notei que também estava ocupada a escrever. Achei melhor não interromper.
«Não consigo trazer a mãe de John para uma reunião de professores.»
«Não consigo com que a minha filha abasteça o carro.»
«Não consigo fazer com que Allan use palavras em vez de murros.»
Frustrados os meus esforços para determinar porque os alunos estavam a trabalhar com negativas, em vez de escrever frases mais positivas, ou «eu consigo», voltei para o meu lugar e continuei as minhas observações. Os estudantes escreveram por mais dez minutos . a maioria enchei a sua página. Alguns começaram outra.
«terminem a página em que estiveram e não comecem outra», foram as instruções que Donna deu para assinalar o final da actividade. Os alunos foram instruídos a dobrar as suas folhas ao meio e trazê-las para a frente da classe. Quando os alunos chegavam à mesa da professora, depositavam as frases «não consigo» numa caixa de sapatos vazios.
Quando as folhas de todos os alunos tinham sido recolhidas, Donna acrescentou as suas. Pôs a tampa na caixa, enfiou-a debaixo do braço e saiu pela porta, pelo corredor. Os alunos seguiram a professora. Eu segui os alunos.
A meio do corredor a procissão parou. Donna entrou na sala do vigilante, remexei um pouco e saiu com uma pá. Pá numa das mãos, caixa de sapatos na outra. Donna saiu para o pátio da escola, conduzindo os alunos até ao canto mais distante do recrio. Ali começaram a cavar.
Iam enterrar os seus «Não consigo»! A escavação levou mais de dez minutos, pois a maioria dos alunos queria a sua vez. Quando o buraco chegou a cerca de um metro de profundidade, a escavação terminou. A caixa de «Não consigo» foi depositada no fundo do buraco e rapidamente coberta de terra.
Trinta e uma crianças de dez e onze anos permaneceram de pé, no local da sepultura recém cavada. Cada uma delas tinha, no mínimo, uma página cheia de «Não consigo» na caixa de sapatos um metro abaixo. E a professora também.
Nesse momento Donna anunciou: «Meninos e meninas, por favor dêem as mãos e baixem as cabeças. Os alunos obedeceram. Rapidamente, dando as mãos, formaram um círculo em redor da sepultura. Baixaram as cabeças e esperaram. Donna proferiu os louvores.
«Amigos, estamos hoje aqui reunidos para honrar a memória do «Não consigo». Enquanto esteve connosco na Terra, ele tocou as vidas de todos nós, de alguns mais do que de outros. O seu nome, infelizmente, foi mencionado em cada instituição pública – escolas, prefeituras, assembleias legislativas e sim, até mesmo na Casa Branca.
Providenciamos um local para o seu descanso final e uma lápide que contém o seu epitáfio. Ele vive na memória dos seus irmãos e irmãs. «Eu consigo», «Eu vou imediatamente», estes não são tão conhecidos como o seu famoso parente e certamente ainda não tão fortes e poderosos.
Talvez algum dia, com a sua ajuda, eles tenham uma importância ainda maior no mundo. Que «Não consigo» possa descansar em paz e que todos os presentes possam retomar as suas vidas e ir em frente na sua ausência. Ámen.»
Ao escutar as orações entendi que aqueles alunos jamais esqueceriam esse dia. A actividade era simbólica, uma metáfora da vida. Foi uma experiência directa que ficaria gravada no consciente e no inconsciente para sempre.
Escrever os «Não consigo», enterrá-los e ouvir a oração. Aquele havia sido um esforço maior da parte daquela professora. E ainda não terminara. Ao concluir a oração ela fez com que os alunos se virassem, encaminhou-os de volta à classe e promoveu uma festa.
Eles celebraram a morte do «Não consigo» com biscoitos, pipocas e sumos de frutas. Como parte da celebração, Donna recortou uma grande lápide de papelão.
Escreveu as palavras «NÃO CONSIGO» no topo,
«DESCANSE EM PAZ» no centro
e a data em baixo.

A lápide de papel ficou pendurada na sala de aula de Donna durante o resto do ano. Nas raras ocasiões em que um aluno se esquecia e dizia «Não consigo», Donna simplesmente apontava o cartaz «Descanse em Paz». O aluno então lembrava-se que «Não consigo» estava morto e reformulava a frase.
Eu não era aluno de Donna. Ela era minha aluna. Ainda assim, naquele dia aprendi uma lição duradoura com ela…

(Chick Moorman-"Canja de Galinha para a Alma")