2009-12-30

A vida..é uma ponte

(foto:PauloViana)
Às vezes não me apetece ser crescida.
Queria voltar a ser criança, voltar à época em que não se tinha responsabilidades.
Queria deitar e ter 1 sono tranquilo..sem pensar nos problemas.
Queria poder brincar ao faz de conta e sonhar com 1 mundo cor-de-rosa.
Queria ter quem cuidasse de mim, me levasse pela mão, me protegesse das coisas menos boas.
Queria voltar à idade em que não sabia que ser crescido era tão complicado.
Queria não ter de atravessar a ponte da Vida...
Aquela que à medida que atravessamos, vamos crescendo e sentindo por vezes uns solavancos,
Uns abanões que nos fazem escorregar...mas que depois nos levantamos e..continuamos confiantes.
Estes dias senti saudades de ser criança, dos felizes Natais que passava na casa de meus avós com toda a família.
Na véspera, à tarde, eu ia ajudar a minha avó a fazer as filhós. Depois iam chegando os meus tios e primos..as mulheres tratavam do jantar, o meu pai e tio iam acender o braseiro para colocar na cozinha (à antiga), os meus primos e irmã ficavam a ver televisão...
Que saudades daquele cheiro a fritos, a canela, ao fumo do braseiro, ao café de cafeteira que minha avó fazia...
Bons tempos, que com a velhice dos meus avós foi minguando...
(O Natal passou para casa da minha tia, meus avós foram para lá viver...haviam os pratos típicos, mas não era a mesma coisa..e com as brigas parvas entre os 3 irmãos, há 3 anos que cada um festeja o Natal em suas casas)
...
Fez ontem 3 semanas que minha avó partiu.
Com o temporal, de dia 23, muita coisa por cá ficou danificada e enquanto eu ia limpando o que o vento destruiu, veio 1 vizinha com 1 prato...de filhós ainda quentinhas para nós. Agradeci e levei o prato para a garagem, mas não resisti e comi logo uma.
Nem quis acreditar...e comi outra. Era verdade! Alguém fazia filhós tão saborosas como minha avó. Pareciam as dela..e eu até sou deveras esquisita nestes doces típicos, mas por momentos regressei ao passado...
Algumas lágrimas rolaram de emoção...
(eu estava sozinha, e foi 1 momento só meu)
A vida continua e eu vou atravessando a Minha Ponte da Vida...
Foi 1 Natal mais pobre pois dia 25 não tinha minha avó para visitar.O meu avó, seu esposo, estava acamado há mais de 3 anos e já tinha poucos momentos de lucidez, 90 anos feitos em Março, e eu levei meus pais para Lisboa passar o dia na casa da minha irmã.
...
Ontem fez 3 semanas que minha avó partiu, e ontem meu avô foi ter com ela.
...
Queria recuar, voltar para trás, mas nesta Ponte é impossível fazê-lo.
Era tão bom ser criança.
http://www.youtube.com/watch?v=0auCDOERZyE

2 comentários:

Luisa disse...

A Partir da Ausência

Imaginar a forma
doutro ser Na língua,
proferir o seu desejo
O toque inteiro

Não existir

Se o digo acendo os filamentos
desta nocturna lâmpada
A pedra toco do silêncio densa
Os veios de um sangue escuro

Um muro vivo preso a mil raízes

Mas não o vinho límpido
de um corpo
A lucidez da terra
E se respiro a boca não atinge
a nudez una
onde começo

Era com o sol E era
um corpo

Onde agora a mão se perde
E era o espaço

Onde não é

O que resta do corpo?
Uma matéria negra e fria?
Um hausto de desejo
retém ainda o calor de uma sílaba?

As palavras soçobram rente ao muro
A terra sopra outros vocábulos nus
Entre os ossos e as ervas,
uma outra mão ténue
refaz o rosto escuro
doutro poema

António Ramos Rosa, in "A Nuvem Sobre a Página"


Que 2010, lhe traga Paz.

Abraço
Luisa

Guidinha Pinto disse...

Acabei de a ler Pink, com umas lagrimazitas nos olhos. Já passei pelo mesmo por isso sei do que fala. A única coisa que pode fazer é continuar a viver com as perdas. A viver a sua vida. Construa-a, seja a arquitecta da sua estrutura. Faça da sua ponte o seu caminho e olhe que não pode voltar atrás:). Esta coisa de envelhecermos é sinal de que estamos vivas, mas vamos deixando partir os que vão mais lá à frente, na curva da ponte.
O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...
Chega de frases piegas. Força Pinkinha, erga uma taça e brinde a chegada do Ano Novo com a Esperança do que é novo e a Alegria possível.
Um beijo.